Trevisol
abriu o evento cantando, e logo em seguida mergulhou, de maneira bem
humorada, nas definições psicológicas e filosóficas que tanto
interessavam aos expectadores. “A divisão maior da sociedade não está
entre pobres e ricos, mas sim entre os distraídos e os que são atentos
aos sinais. Os que estão mais atentos conferem sentido as coisas que
acontecem ao seu mundo, se mantém alertas, enquanto os distraídos as
vezes simplesmente veem a vida passar, entregam-se demais ao acaso.”,
disse, pregando que a autoavaliação é um exercício indispensável para
quem busca conhecer a si mesmo.
Andando
pelo palco, sem economizar gestos e trejeitos, com seu sotaque no
melhor estilo descendente de italianos, o psicoterapeuta orientou o
público a observar melhor as pessoas de seu convívio mais próximo. “Quer
saber quem você é? observe quem é que vive ao seu lado, quem está
sempre com você; analise que livros você lê, que filmes você assiste;
isso revela muito sobre sua alma.”
Ele
salientou a importância de monitorarmos nossos pensamentos para que
possamos viver com equilíbrio. Em síntese, explicou que atraímos aquilo
que pensamos. “Pessoas tristes atraem pessoas tristes e duas pessoas
tristes as vezes dão muito certo, até que um deixe de ser triste. Isso
porque um triste não suporta a felicidade do outro, a felicidade do
outro machuca”.
Relação entre casais, e o poder do beijo
Entre
os diversos conselhos e ideias repassadas durante a palestra, Jorge
Trevisol deu uma explicação a respeito dos indivíduos que vivem em
constante conflito. “Com quem você mais briga é com quem você mais se
parece; é que você enxerga no outro a parte de você que mais lhe
incomoda; casais que brigam muito não se separam, eles se amam, mas ao
mesmo tempo estão machucados. Por um lado não conseguem conviver
direito, mas por outro não conseguem se afastar, não conseguem ficar
longe um do outro.”
Numa
relação a dois, é importante que haja certo consenso em relação à
irritação, defende Trevisol. “Quando um homem está passando por um
momento difícil, com raiva e vontade de brigar, a parceira deve ter
compreensão para ouvir aquele monte de reclamações que podem vir. E o
mesmo vale para o caso contrário, o homem também deve ser paciente em
relação às angústias de sua companheira. O importante é ter um ouvido
amigo, que ouça nossas preocupações e que tente nos ajudar mesmo nos
momentos de raiva.
Com
bom astral, o psicólogo fez o público rir ao trazer a tona, de forma
descontraída, problemas corriqueiros e recorretes na vida de muitas
pessoas. “As terapias de casal acontecem, principalmente, quando os
casais brigaram tanto dentro de casa que se cansaram da situação, e
recorrem a um terapeuta, um terceiro, para decidir quem tem a razão”,
brincou, continuando. “Mas quem faz terapia de casal o faz porque ama. A
briga de muitos casais ocorre pois carregamos um ódio oculto, um
sentimento que dói e que queremos extravasar para nos livrar. E assim o
ódio e o amor muitas vezes andam juntos, pois a verdadeira antítese do
amor é a indiferença, a perda do interesse, quando a vontade de
compartilhar em um relacionamento acaba”.
Á
nível de curiosidade, o psicoterapeuta citou um estudo realizado nos
Estados Unidos, indicando que os casais que se beijam antes de ir para o
trabalho, e também quando voltam, têm menos chances de adoecer. “O
beijo, neste caso, funciona como um símbolo de proteção, que faz com que
deixemos o interior dos nossos lares com mais coragem para encarar os
desafios do mundo exterior”.
Doenças da Alma: Depressão, estresse, bipolaridade, etc
Dois
dos problemas mais comuns na atualidade, depressão e estresse, também
foram abordados. O primeiro foi classificado por Trevisol como síndrome
mais comum às mulheres. “É a dor que vai à sutileza da alma, uma
característica de quem guarda as coisas, não exterioriza seus problemas.
É também um mal de quem não sai de casa, de quem se fecha para o mundo
exterior”. Sobre o segundo, ele alertou: “O estresse é doença com
tendência masculina, é coisa de quem quer fazer, fazer, fazer; o
estressado volta pra casa, mas a cabeça dele parece estar em outro
lugar, presa em problemas e preocupações”.
Juntamente
com a depressão e o stress, a bipolaridade também entrou em pauta,
sendo definida como a doença da moda por Trevisol. “Você entra num
consultório terapêutico e vai sair de lá, quase com certeza, tendo esta
síndrome diagnosticada. Na verdade somos todos nós, seres humanos e
sensíveis, bipolares, pois a vida não é sempre linear e estável, mas sim
uma roda gigante com altos e baixos”.
O
palestrante também falou da raiva, que está presente nas nossas vidas
em diferentes formas. “A raiva nos é necessária em pequenas doses, para
ajudar a manter nossos projetos e para enfrentar os obstáculos.
Ansiedade é a mesma coisa, precisamos um pouco dela para estar atentos.
Causos, Complexo de Édipo e impotência
Trevisol
citou alguns “causos” de sua vida profissional e pessoal, para embasar
sua palestra. “No consultório todos que vêm conversar comigo estão com
problemas, o que faz com que eu experimente a dor, a angústia, o medo
que de que eles sofrem”. Isto seria alteridade entre o psicólogo e seus
pacientes, mas que também pode valer para as nossa forma de encarar as
relações que temos com as pessoas. “Um dia uma senhora me perguntou
porque sua vida era tão ruim, porque as pessoas que cruzavam o caminho
dela eram tristes, suas amigas eram infelizes. O fato é que quem carrega
más energias leva isso para sua vida: indiferença atrai indiferença,
briga atrai briga”.
Trevisol
conceituou, de forma simplificada, o complexo de Édipo, uma corrente
psicanalítica relacionada a descoberta (pela criança) do sexo oposto, e
com os sentimentos contraditórios de amor e hostilidade com nossos pais
e mães. Resumindo: Uma vez que o ser humano não pode ser concebido sem
um pai ou uma mãe (ainda que, eventualmente, nunca venha a conhecer uma
destas partes ou as duas), a relação que existe nesta tríade é, segundo a
psicanálise, a essência do conflito do ser humano.
Os
problemas de impotência sexual também foram abordados por Trevisol, mas
de forma descontraída, tratando o tabu de forma leve. Ele disse que, a
maioria das vezes, o problema não está diretamente relacionado com
disfunções biológicas, mas sim psicológicas. “A impotência vêm quando a
baixo-estima domina nossa alma, encaramos a nós mesmos como um
fracasso”.
Pais e Filhos
Tema
bem recorrente na palestra também foi a relação entre pais e filhos.
“Somos um reflexo de nossos pais, que por sua vez se espelharam nos
nossos avós. Ficamos parecidos com as pessoas que estão próximas, e os
nossos filhos também terão em nós um exemplo. Então cuide hoje das
pessoas que você gosta, pois no futuro você terá pessoas que também
cuidarão de você”, afirmou Trevisol, preconizando ainda que os filhos
vêm ao mundo para ensinar os pais a viverem, tiram deles parte do
narcisismo que carregam.
No
mesmo contexto metafísico, da atração de energia semelhantes, o
palestrante falou da importância dos pais passarem vibrações positivas
para os filhos. “Atração de energias negativas pega, maldição de mãe
pega. Mãe tem que abençoar, mesmo quando pense que fez tudo errado com o
filho. Isto porque ninguém veio ao mundo para dar errado, e acreditar
que as coisas vão dar certo atrai esta energia positiva para nós, e para
as pessoas que amamos”.
E
para os filhos, Trevisan aconselha que busquemos guardar só as imagens
boas de nossos pais. “A lembrança que tu tem do teu pai é dele brigando,
ou criando instabilidade na família? Mas tu te lembra também daquele
dia, em que ele te amou muito? Cada pessoa tem uma maneira diferente de
amar e de demonstrar seu amor, temos que estar atentos para perceber os
sinais que representam estas demonstrações e valorizá-los.
Zeca Baleiro, amor e deserto
Com
é tradicional em suas palestras, Jorge Trevisol cantou e depois
utilizou frases da música “Balada de Agosto”, de autoria de Zeca
Baleiro. O verso ‘meu coração vive cheio de amor e deserto’ foi
referência para diversas falas. Deserto, nas definições do palestrante, é
aquilo que nos faz machucar as pessoas que mais gostam de nós,É também o
medo, a ansiedade, o tédio. “Aquilo que temos mais dificuldade para
controlar é deserto. Dentro deste raciocínio, amor e deserto não se
separam, fazem parte de nós, porque ninguém é totalmente bom ou mal.A
gente é bom mesmo quando erra.”
Uma
das orientações mais práticas deixadas pelo palestrante poderia ser
classificada como técnica para tomar a decisão certa. Segundo ele, na
dúvida entre duas opções, devemos escolher aquele que meche mais com o
coração. “Está na dúvida entre duas namoradas? fique com aquela que tem
mais coração”, ressaltou.
Ao
final da apresentação de Jorge Trevisol, as energias positivas pareciam
se espalhar por todos os presentes no ginásio. Sai da palestra de Jorge
Trevisol com a sensação de que todos (ou a maioria, para não ser
leviano ao utilizar impossíveis termos absolutos de satisfação) “com
certeza, tivemos uma rica experiência”, parafraseando o que disse a irmã
ao final do evento
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