ATEMPORAL
Acima das Nuvens foi o
primeiro filme a que assisti em 2015, com a sempre ótima Juliette
Binoche e a enjoadinha da Kristen Stewart, que reverteu minha má vontade
com ela: está muito bem como a secretária pessoal da diva interpretada
por Binoche. A história aqui resumida: uma atriz na faixa dos 40/50 anos
é convidada a atuar no remake de uma peça que ela havia feito 20 anos
antes, só que agora ela ficará com o papel da mulher mais velha do elenco e terá que contracenar com uma jovem atriz em ascensão que fará o papel que foi dela no passado.
Este é o conflito da personagem de Juliette Binoche. Ela é uma atriz
que voltará a atuar na peça que a consagrou e onde há uma forte tensão
sexual entre duas mulheres: uma jovem audaciosa e irreverente que
manipula uma mulher madura. Pois agora a atriz que deslumbrou o mundo 20
anos antes, interpretando a jovem, foi escalada para fazer a madura.
Naturalmente, há uma relutância em se render a esse novo papel, pois lhe
parece a confirmação de sua decadência. Mas não há decadência nenhuma,
apenas medo de enfrentar as mudanças que a passagem do tempo provoca.
É um filme de pouca ação, porém de muitas nuances.
O ritmo do filme é
tranquilo, só ganha certa agitação com a entrada em cena da jovem atriz
que dividirá o palco com a atriz consagrada, quando fica claro que já
não se fazem mais divas como antigamente.
As duas jantam num restaurante
com o diretor da peça, e este só dá atenção para a garota que é
perseguida por paparazzi, que está envolvida numa relação de amor
clandestina, que vive cercada por seguranças. É a parte atraente do seu
currículo: o alvoroço que provoca em volta. Enquanto isso, a atriz
veterana descobre que se tornou invisível.
Será mesmo que estamos
todos condenados a um final melancólico?
É inegável que temos que abrir
passagem aos que vêm atrás.
Eles chegam com um frescor que já não temos,
com um código de comunicação que não dominamos, com uma urgência que
para nós não faz mais sentido.
Tornamo-nos seletivos e serenos com o
passar dos anos, mas ainda há estrada pela frente e temos que dividi-la
com aqueles que têm menos bagagem e que correm mais ligeiro.
Inevitavelmente, seremos ultrapassados por eles, mas não há razão para
interrompermos nossa viagem e nos exilarmos em nossas memórias.
Há
uma forma de resistir ileso às diversas etapas da vida: não nos
restringindo a nenhuma delas.
Não nos catalogando como jovem ou como
velho.
Sendo atemporal.
O atemporal não reproduz comportamentos
padrão.
Não coleciona slogans nem certezas.
Não vira as costas para o
novo nem para o antigo.
Não é assombrado por datas e idades: ele plana
pela vida sem referências limitadoras, portanto, nunca é inadequado.
Sempre haverá um papel para ele.
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